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Por Tadeu Breda, editor

Entre janeiro e julho de 2021, produzimos nove livros na Elefante: quatro de autores estrangeiros e cinco nacionais. Demos prioridade a títulos que queríamos ter lançado no ano passado, mas que, por uma série de motivos – entre eles esta eterna pandemia –, acabaram ficando para depois do réveillon. Na virada do ano, nossa equipe cresceu, e a expectativa é que, daqui pra frente, possamos lançar mais títulos, aprimorando nossa cada vez mais reconhecida qualidade gráfica e editorial.

Temos uma fila imensa e deliciosa de obras esperando vir ao mundo — com Silvia Federici, Brigitte Vasallo, Audre Lorde, entre outres. A ansiedade é grande, mas não podemos nos desesperar. O trabalho com o livro é muito meticuloso. Mesmo tomando todos os cuidados, erros acabam acontecendo. Neste primeiro semestre, cometemos um bem feio — o qual conseguimos reverter assumindo a falha e nos desdobrando para corrigi-la.

Para continuar melhorando, revimos alguns processos internos e inauguramos a seção Reportar Erros, no site, para que vocês, nossos tão atentos leitores, possam nos informar sobre eventuais mancadas cometidas nos livros. Já temos recebido algumas mensagens por esse canal, pelas quais somos muito gratos.

Ainda sem saber o que viria nesses primeiros seis meses, começamos 2021 muitíssimo bem, lançando um livraço de bell hooks: Tudo sobre o amor: novas perspectivas. A pré-venda foi ótima e primeira tiragem esgotou rapidinho — tivemos que correr para que as prateleiras não ficassem vazias.

Tem sido incrível ver que vocês estão gostando de Tudo sobre o amor, e como ele está se desdobrando em debates e grupos de estudos sobre esse tema tão transversal em nossas vidas. Em 2021, teremos pelo menos mais dois livros de bell hooks: Ensinando comunidade: uma pedagogia da esperança, último da Trilogia do Ensino escrita pela autora; e A gente é da hora: homens negros e masculinidade, que pretende ser uma grande contribuição para esse debate cada vez mais necessário.

Em fevereiro, voltamos as atenções para o setor mais influente do país com Formação política do agronegócio, de Caio Pompeia, parceria da Elefante com O Joio e O Trigo. O livro tem sido muito bem recebido tanto nos círculos acadêmicos como nos movimentos sociais justamente por traçar uma radiografia das articulações que foram dotando o agronegócio brasileiro desse tremendo poderio, em prejuízo do meio ambiente e dos povos tradicionais, sobretudo os indígenas, além dos trabalhadores rurais e da reforma agrária.

Em março, foi a vez de Modo de vida imperial: sobre a exploração da natureza e dos seres humanos pelo capitalismo global, de Ulrich Brand e Markus Wissen, que lança mão de um conceito provocativo para que o leitor reflita sobre como se produz e reproduz o nosso modo de vida, materializado no que comemos, o que vestimos, como nos transportamos. Para além de preocupações de “consumo consciente”, oferece a possibilidade de pensarmos sobre todos os hábitos cotidianos e sua repetição irrefletida, uma forma de ser e de estar no mundo transmitida como ideal universal, mas que foi construída e se mantém sobre padrões insustentáveis.

Nutricionismo: a ciência e a política do aconselhamento nutricional, de Gyorgy Scrinis, chegou em abril, trazendo ao público brasileiro um clássico da crítica às correntes nutricionais que enxergam os alimentos como um amontoado de nutrientes. A mensagem central do livro é bastante óbvia: alimentos são alimentos, gente — uma laranja, por exemplo, não um punhado de vitamina C; trigo não é carboidrato, é trigo. Enfim… Nutricionismo é mais um fruto da parceria entre Elefante e O Joio e O Trigo.

Em maio, aumentamos nossa coleção de quadrinhos com Um grande acordo nacional, em que Robson Vilalba mistura uma tentativa de entrevistar Dilma Rousseff em Curitiba, a busca pessoal por entender as razões que levaram à destituição da primeira presidenta do Brasil e a reconstituição dos episódios mais relevantes da trama golpista que deixou a população atenta ao noticiário político em 2015 e 2016. O livro chegou justamente quando começavam a se intensificar os debates sobre o impeachment do excrementíssimo Jair Bolsonaro. Comparando a queda de Dilma com a permanência do genocida, fica bastante claro que continuando vivendo o golpe que sofremos em 2016.

Em Por que você voltava todo verão?, que chegou em junho, Belén López Peiró conta a história do abuso sexual que sofreu nas mãos do tio quando tinha entre treze e dezesseis anos de idade. Para isso, a escritora argentina precisou recorrer às vozes de familiares, advogados, médicos e promotores, e também a documentos judiciais. O resultado é uma obra tão incômoda quanto relevante para um país em que tantas jovens sofrem em silêncio com a violência sexual — muitas vezes, como a autora, dentro de casa.

Em julho, mandamos para a gráfica dois livros, que ficarão prontos nos próximos dias. A esquiva do xondaro: movimento e ação política guarani mbya, de Lucas Keese dos Santos, se aprofunda na análise de uma dança — xondaro jeroky — para compreender a postura política dos Guarani Mbya perante o mundo dos jurua, os não índios. Ao esquivar, fazer errar o adversário e tomar a distância ideal do inimigo, esse povo vai resistindo em seus territórios de origem, apesar do avanço irrefreável dessas mentiras a que chamamos progresso e desenvolvimento.

Bolsonaro genocida — um título autoexplicativo — compila pesquisas que demonstram a ação do presidente da República e sua gangue no sentido de potencializar (i) o desrespeito aos direitos indígenas e à preservação do meio ambiente, o que coloca em risco a sobrevivência cultural e material dos povos tradicionais brasileiros, e (ii) a disseminação do coronavírus no país, o que contribuiu para o aumento de casos de covid-19, com o consequente colapso do sistema de saúde e o elevado número de mortes pela doença. A pré-venda foi longa: já com o livro pronto, veio a CPI da Pandemia, que atrasou a publicação, mas possibilitou que ela fosse atualizada. Vai valer a pena tanta espera.

Por fim, encerraremos o primeiro semestre da Elefante enviando para a gráfica, nesta semana, o livro Fronteiras da dependência: Uruguai e Paraguai, título da coleção Realidade Latino-Americana que se debruça sobre os nossos vizinhos mais idealizados (ao sul, considerados gente culta e muito avançada) e mais menosprezados (ao oeste, tidos como atrasados e muambeiros). A obra estende pontes de entendimento com povos e nações que costumamos interpretar a partir de preconceitos.

Além dos livros, como vocês sabem, trabalhamos muito para produzir conteúdo nas redes sociais e no Blog da Elefante. Estamos enviando, mensalmente, uma edição da newsletter que resume tudo o que fazemos a cada trinta dias — e, sempre que terminamos essa compilação, ficamos surpresos com a quantidade de material que disponibilizamos aos nossos leitores.

Também estamos tentando com bastante empenho transformar nossos saudosos lançamentos com pessoas, livros e cerveja em conversas virtuais no canal do YouTube da Elefante. Convidamos os autores e colaboradores que constroem a editora conosco para falar sobre os lançamentos e também sobre os 10 anos de Elefante, recém comemorados em maio de 2021. Vem sendo uma experiência nostálgica e bonita resgatar a nossa história.

Cansados? Com certeza. Mas quem é que está livre da exaustão física e mental no Brasil de 2021? Dentro de tanta desgraça, encontramos uma brecha para sorrir com o caminho trilhado até aqui. Pode parecer ingenuidade, e talvez seja, mas acreditamos que nossos livros ajudam a construir um mundo melhor. Nosso compromisso é continuar com essa militância livresca até que todos os genocidas encontrem o destino que merecem: a lata do lixo da história.

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