Por Marena Mosher
Publicado no The Daily Free Press

 

A geração Z pode ter uma percepção mais cínica do amor do que as gerações anteriores – e isso é compreensível. Em redes sociais como o TikTok, são incontáveis e horríveis as histórias de traição e corações partidos que nos bombardeiam e alcançam milhões de visualizações devido ao puro desgosto e choque que provocam. Por outro lado, a calma, a estabilidade e o respeito mútuo vistos em relacionamentos saudáveis ​​não produzem reações viscerais; portanto, não atingem tantos espectadores. E conforme as pessoas lamentam nos comentários sobre seus relacionamentos fracassados, uma sensação de desesperança começa a encobrir a ideia de amor.

Seria bom que nós pudéssemos diferenciar o verdadeiro amor de dinâmicas adoecedoras disfarçadas de amor. A maneira mais fácil de aprender sobre o amor é entender o que o amor não é.

Em seu livro Tudo sobre o amor, bell hooks desafia a sociedade a redefinir o sentimento. Somos ensinados desde muito cedo que o amor é principalmente isso, um sentimento, uma intuição cega e um transe mágico em que caímos sem nenhum autocontrole. Como escreve hooks, essa visão é problemática, pois leva as pessoas a pensarem no amor como um sentimento temporário sobre o qual não têm domínio.

Na verdade, o amor é exatamente o oposto a isso. O amor é algo acordado e escolhido todos os dias. Amor é um verbo, uma prática e um modo de vida. É fácil se apaixonar, mas é mais difícil escolher continuamente amar. Segundo a autora: “O amor é uma combinação de cuidado, compromisso, confiança, sabedoria, responsabilidade e respeito”. 

Infelizmente, não temos nenhum controle sobre o lugar de onde recebemos ou deixamos de receber o amor pela primeira vez: a nossa família. Não podemos escolher se nascemos em uma família amorosa e recebemos o amor incondicional ao qual temos direito ao entrar no mundo.

Como escreve hooks, quando as pessoas que deveriam amar seus filhos os machucam de forma contínua, isso pode ser confuso para as crianças. Elas podem internalizar uma crença imprecisa sobre o que é o amor. Esses indivíduos crescem e vão para o mundo em busca de sua própria e má concebida definição de amor.

Na psicologia, isso é conhecido como “confusão de linguagens”, a situação em que uma criança aceita a maneira como ela é tratada e enxerga isso como amor. Em algum momento da vida, esquecemos algo que sabíamos quando éramos crianças – que ansiamos por amor. Quando crianças, abraçamos livremente; até pedimos abraços quando precisamos. Amamos nossos amigos, nossos pais e a nós mesmos. Mas continuar se amando vai se tornando uma tarefa impossível.

Não há nenhuma força em negar a si mesmo o amor. Não é diferente de negar uma necessidade básica, como se alimentar. Assim como o corpo se desliga e se deteriora por falta de comida, o bem-estar emocional de uma pessoa também falha na falta de amor. Observamos isso em bebês aos quais são negados atenção e afeto. O desenvolvimento de seu cérebro é afetado de forma catastrófica, e essas crianças são mais propensas a desenvolver transtornos de personalidade, de acordo com o Collaborative Longitudinal Personality Disorders Study.

Quando somos verdadeiramente amados, nos sentimos capazes de sermos nossa versão mais autêntica. Temos o poder de tirar a máscara sob a qual nos escondemos e, em vez disso, sermos vulneráveis ​​e abertos. Criamos um espaço em nossos corações para receber o amor que sempre ansiamos. Quando podemos ser nós mesmos diante da pessoa que amamos, o reconhecimento de que somos amados nos liberta de qualquer medo. Não temos mais nossa energia drenada pelo autopoliciamento contínuo, não mais sufocamos sob a máscara do falso eu.

É difícil admitir para nós mesmos que pessoas próximas a nós – até mesmo nossa família – podem não nos amar. No entanto, não podemos culpar aqueles que têm definições equivocadas de amor porque eles também não tiveram controle sobre quem primeiro lhes ensinou sobre isso: seus próprios pais.

Porém, em vez de perpetuar esse ciclo de falta de amor geracional, podemos internalizar uma definição nova e revolucionária de amor. Podemos escolher amar os outros em vez de julgá-los e, lentamente, mover nossa sociedade em direção a um modo de vida melhor.

É o medo do amor, e o medo de não ser amado, que impulsiona muito do nosso comportamento. Como escreve hooks, o amor nos permite abandonar esse medo. Podemos nos jogar e saber que a graça do amor estará lá para nos pegar. O amor não é aquilo que nos derruba. É o que nos levanta quando caímos [de amor].

 

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