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As fronteiras do capitalismo dependente na América Latina

Pesquisadores viajam ao Uruguai e Paraguai para superar estereótipos e estimular o interesse e o conhecimento dos brasileiros em relação aos seus vizinhos.

A partir de um clichê bem brasileiro, é comum dizer que Uruguai e Paraguai são dois países sul-americanos muito diferentes entre si – até mesmo opostos. O Paraguai é associado à precariedade e ao contrabando (na linguagem comum, o adjetivo “paraguaio” descreve algo falsificado), enquanto o Uruguai é geralmente percebido como um país de gente culta e cabeça aberta, em especial depois das legalizações da maconha, do casamento homoafetivo e do aborto – um pedaço progressista da América Latina, menos desigual na economia e mais inclusivo nos direitos.

“Enquanto o Paraguai é considerado uma sociedade atrasada, conservadora, autoritária e tutelada por um Estado repressivo, o Uruguai é associado a valores democráticos, liberdades políticas e a uma sociedade civil atuante. Em síntese, se recuperarmos uma antiga dicotomia do pensamento latino-americano, podemos dizer que os uruguaios estão mais próximos do que poderíamos chamar de ‘civilização’ na América Latina, e o Paraguai está associado à ‘barbárie'”, escrevem Fabio Luis Barbosa dos Santos, Fabiana Dessotti, Fabio Maldonado e Rodrigo Chagas na introdução de Fronteiras da dependência: Uruguai e Paraguai, que acaba de entrar em pré-venda pela Elefante.

Em uma tentativa de ir além da glamorização do Uruguai e do preconceito com o Paraguai, a fim de abranger o entendimento da complexa realidade de cada um desses países, em dezembro de 2019 os pesquisadores viajaram para esses locais, depois de um ano de estudos, e questionaram o motivo desses estereótipos. De fato, observaram-se contrastes em todas as esferas da existência, mas, para além das diferenças, há aproximações possíveis. Talvez seja possível identificar tanto no Uruguai quanto no Paraguai variações de um mesmo problema, ainda que em seus extremos: o capitalismo dependente latino-americano, em que a acomodação dos interesses internos e externos se articula por meio de padrões de dominação autocráticos.

Para os brasileiros, a comparação tem um interesse suplementar. Em última análise, as determinações estruturais que permitem comparar Uruguai e Paraguai remetem à formação colonial comum. Mas também as diferenças têm raiz antecedente e, nesse caso, o Brasil teve um papel decisivo e crucial na história dos dois vizinhos, seja nas circunstâncias que levaram à independência do Uruguai, em 1830, seja na Guerra do Paraguai (1864-1870), também conhecida como Guerra da Tríplice Aliança ou Guerra Guasú [Guerra grande], que modificou a estrutura socioeconômica e a inserção internacional do país.

A recíproca é verdadeira somente de modo parcial, dada a assimetria entre os países. O que acontece no Brasil teve e tem até hoje um peso importante para o Uruguai e o Paraguai em todos os planos — das relações internacionais à economia, da política à ecologia. Não é possível subestimar a importância do Brasil para esses dois países, uma realidade que a maior parte dos brasileiros ignora.

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