Crítica à subjetividade capitalista: autoestima, espiritualidade e amor em bell hooks

Cuidar da autoestima, da nossa espiritualidade e descolonizar a forma como amamos são práticas de resistência contra os sistemas interligados de opressão

Por Mariléa de Almeida
Publicado no Medium

 

Autoestima, espiritualidade e amor são dimensões importantes na vida cotidiana das pessoas, mas geralmente são tratadas nas análises acadêmicas e no senso comum por meio de certos estigmas e preconceitos. A autoestima, por exemplo, é associada normalmente aos livros de autoajuda, que oferecem fórmulas mágicas para que as pessoas impulsionem suas vidas. Muitas vezes, o tema é capturado pela lógica da produtividade empresarial, vinculado a ideias como: fortaleça sua autoestima, seja resiliente, governe suas emoções e produza mais. A espiritualidade, frequentemente associada apenas às práticas religiosas, igualmente é um tema cujas discussões são impregnadas pelas abordagens que hierarquizam a razão como algo que deve orientar nossas decisões, visto como contraponto ao pensamento racional. Durante muito tempo, a ortodoxia marxista desqualificou as práticas religiosas e espirituais como expressões da alienação política. E, por fim, falar sobre amor, cujo tema é associado à semântica do romantismo presente nos inúmeros filmes, novelas e letras de músicas, costuma ser pensado como algo ingênuo, abstrato e que sugere fraqueza. Em suma, autoestima, espiritualidade e amor são abordados como se não fizessem parte da política.

Ao longo de suas obras, bell hooks politiza esses temas e, por meio deles, realiza uma crítica sobre os modos de subjetivação capitalista focalizados no individualismo, no hedonismo e na competição. Isso ocorre porque bell hooks compreende que os sistemas interligados de dominação engendram instituições, práticas culturais e, sobretudo, formas de pessoas. Para ela, a fim de produzirmos outras subjetividades, que não sejam orientadas pela valorização da ganância e dos ganhos materiais, é preciso descolonizar os modos como nos relacionamos com a autoestima, espiritualidade e amor. Vale lembrar a famosa a declaração, na década de 1980, dada pela Primeira Ministra do Reino Unido Margareth Thatcher, ao dizer que economia é o método, mas objetivo é “mudar a alma e o coração” (LAVAL; DARTOT, 2016, p.27)

A relação entre capitalismo e a produção de subjetividades tem sido estudada por inúmeros pesquisadores, cujas análises demonstram que, no momento atual, o neoliberalismo produz formas de pessoas que, em suas dinâmicas pessoais e cotidianas, incorporam os valores do mercado, como individualismo, produtividade e competição. Decorrentes dessas análises, surgem conceitos como o neossujeito, proposto por Pierre Dartot e Christian Laval (2016); o homem endividado, de Maurizzio Lazzarato (2017); e a noção de capitalismo cognitivo, desenvolvida a partir das obras de Foucault, Deleuze e Guattari.

Atenta de como os valores da sociedade capitalista afeta, inclusive, os contornos da luta antirracista, bell hooks discute que, tratando do contexto dos Estados Unidos, apesar da inequívoca importância da luta pelos direitos civis, uma vez que o discurso enfatizou a conquista do poder e de direitos, esse foco colaborou para esvaziar a ideia de que cuidar das dimensões psíquicas e espirituais integravam a resistência política.

Para bell hooks, a partir dos anos de 1970, muitas pessoas negras foram encorajadas a pensar que a solução para o racismo viria exclusivamente por meio de trabalho e do dinheiro. Esta estratégia de luta se distanciava das práticas ocorridas no início do século XX, momento que, segundo ela, a luta antirracista, especialmente aquelas ações lideradas pelas mulheres negras, conectavam as dimensões espirituais e psíquicas às necessidades materiais. Não por acaso, a educação era tema central para mulheres como Mary Church Terrel, e líderes negros como Du Bois declaravam que o orgulho de ser negro deveria estar ancorado em práticas que poderiam realizar pessoas negras em termos holísticos e comunitários (HOOKS, 2003).

No rastro dessa tradição, autoestima, espiritualidade e amor nos trabalhos de bell são abordados de forma transversal em diversas obras suas, mas também são focalizados em livros específicos. O amor é o assunto central da trilogia: All About Love: New Visions (2000); Salvation: Black People and Love (2001) e Communion: The Female Search for Love (2002). As análises sobre autoestima ganham destaque no livro Rock My Soul: Black People and Self-Steem (2003). A preocupação com a espiritualidade, por sua vez, está presente em inúmeros de seus escritos. Nessas análises, seu propósito é demonstrar como uma sociedade dominada pelo patriarcado capitalista supremacista branco imperialista captura dimensões essenciais da nossa existência, vendendo a falsa ideia de que podemos nos sentir plenas por meio do consumo hedonista.

O povo preto e a autoestima

Na introdução do livro Rock My Soul: Black People and Self Esteem (2003), hooks realiza o seguinte diagnóstico: a falta de autoestima é um problema que afeta a comunidade negra desde o período da escravidão, e que contemporaneamente esse sofrimento não estava limitado a pessoas pobres e de classe baixa, isto é, não estava relacionado à quantidade de dinheiro que as pessoas estavam ganhando ou quão bem-sucedidas eram. Ela chega a essa conclusão observando que, a seu redor, estava difundida uma angústia emocional subjacente, observação que se deu primeiro com os estudantes das instituições da Ivy League[1] onde ela lecionou. Seus alunos estavam entre os melhores, mais brilhantes e frequentemente os mais belos e, ainda assim, eram cercados por um profundo sentimento de indignidade. Na maioria das vezes, segundo hooks, eles estavam deprimidos sem saber o porquê, e o uso de drogas — ilegais ou prescritas — não resolvia o problema, além de haver mais tentativas de suicídio do que as pessoas tinham coragem de dizer. Assim, ela descreve

Desde o primeiro momento em que ouvi histórias dos estudantes, seja no meu escritório, no sofá da minha casa ou no quarto de hospital, o que eu ouvi foram vozes com profunda falta de autoestima. E quando eu escutava meus pares, a geração dos baby boomers[2], que se destacaram e deixaram sua marca, eu ouvi narrativas similares. Eu ouvi pessoas falarem sobre um profundo sentimento de inadequação, de não ser “suficiente”, mesmo quando eles não puderam definir o que seria suficiente. Eu ouvi e ouço sentimentos de vergonha, culpa, inferioridade. Finalmente, depois de ouvir essas confissões de auto aversão e autodesconfiança, eu fui compelida a enfrentar a realidade implícita desses depoimentos. Eu queria fazer algo para encontrar a explicação e a solução. (HOOKS, 2003, p. 10, tradução minha)

bell hooks analisa que mesmo com um tipo de oportunidades que antes não existiam para as pessoas negras, quando o racismo era determinante em suas vidas, é alarmante a intensificação atual da baixa autoestima na comunidade negra. Dado o contexto dos Estados Unidos, é importante situar o que bell hooks está chamando de “determinante”. Entre 1876 e 1965, nos estados do Sul existiram as chamadas “Jim Crow”, leis que oficializavam o sistema de segregação racial em escolas públicas, locais e transportes públicos, restaurantes, bebedouros para negros e brancos, entre outras práticas segregacionistas.

Nos anos de 1950 e 1960, a luta pelos direitos civis liderada pelo movimento negro colocou fim nas legislações segregacionistas, cujo desdobramento foi a implantação de ações afirmativas para população negra. A situação promoveu melhoria nas condições materiais, mas não resolveu o problema da autoestima. Assim, ela exemplifica o problema por meio de um exemplo familiar, pois percebe que ela, seu irmão e suas cinco irmãs pareciam ser mais frágeis psicologicamente do que os pais. Ela diz que, como em muitas famílias negras do Sul, ela, o irmão e as irmãs foram encorajados a estudar e a se formarem; porém, apesar de todos eles alcançarem um nível de privilégio material que os pais não conheceram, o ganho material não serviu para mudar o autoconceito que ela e seus irmãos têm sobre si mesmos (HOOKS, 2003).

Ela apresenta essa questão para mostrar que a noção de que fortalecimento da autoestima, baseado apenas em ganhos materiais ou em uma noção superficial de estética, não favorece a construção de uma autoestima saudável, já que essas práticas, capturadas pela lógica do mercado, colaboram, em última instância, por associar autoestima ao consumismo hedonista e a satisfação individual.

Apesar da falta de autoestima ser um problema constante na comunidade negra, hooks salienta que o tema não tem sido analisado com profundidade. Ela afirma que, em livros e artigos escritos por teóricos negros, os autores detalham uma longa lista de doenças que sugerem uma crise de autoestima, mas muitos desses autores se recusam a enxergar a conexão entre o sofrimento e a falta de autoestima, porque para alguns deles este parece ser um diagnóstico simplista. Daí, hooks responde: “O diagnóstico pode ser simples, mas obviamente não tem sido uma tarefa simples criarmos bases duradouras para a construção de uma autoestima saudável na vida negra, porque se assim fosse não haveria crise” (Ibid., p. 12).

hooks alerta que precisamos olhar para nós mesmos por meio de uma visão holística, percebendo que nosso bem-estar emocional está fundamentado tanto nas políticas de raça e racismo como na nossa capacidade de criar uma autoestima necessária para cuidarmos de nossa existência de forma plena (Ibid., p. 20). Para discutir o tema de forma holística, hooks recorre à noção de autoestima desenvolvida pelo psicólogo Nathaniel Branden:

“A autoestima, plenamente realizada, é a experiência de que estamos aptos para a vida e para as exigências da vida. Autoestima é a confiança em nossa capacidade de pensar; confiança em nossa habilidade de lidar com desafios básicos da vida; e confiança em nosso direito de sermos bem-sucedidos e felizes; a sensação de que temos valor, dignidade e o direito de afirmar nossas necessidades e desejos, alcançar nossas metas, e desfrutar os frutos dos nossos esforços.” (Ibid., p. 10, tradução minha)

Nessa abordagem, uma autoestima plenamente realizada se sustenta por meio de seis pilares: integridade pessoal, autoaceitação, autorresponsabilidade, autoafirmação, viver conscientemente e viver com propósito. Valendo-se dessa concepção, hooks afirma que, muitas vezes, nós focamos tanto em como os outros ferem a nossa autoestima que ignoramos as feridas que são auto-infligidas. Ela pondera:

Para tratar dessas feridas, aprender abraçar o bem-estar emocional sem autossabotagem, nós precisamos prestar mais atenção ao tema do autorrespeito. Nós precisamos destacar o tema da autoestima. Embora tenhamos um período prolongado de silêncio, talvez mesmo de negação, quando estávamos incapazes de falar abertamente e honestamente sobre a crise de como vemos a nós mesmos e os outros e como somos vistos, nós, pessoas negras, sabemos que nossa autoestima coletiva ferida não foi curada. Nós sabemos que estamos com dor. E é só enfrentando a dor que poderemos fazê-la passar. (HOOKS, 2003, pp. 12–13, tradução minha)

Assumir que a ferida é coletiva reforça a importância de encontrarmos formas que nos fortaleçam. Nessa direção, construir uma autoestima saudável não significa nos sentirmos bem em termos individuais. Essa é uma concepção liberal e burguesa de bem-estar. Para ela, a terapia pode ser um local útil e necessário para a cura, já que é um dos poucos lugares em nossa sociedade em que a dor emocional pode ser reconhecida sem julgamento negativo e o desejo de bem-estar emocional pode ser afirmado. Contudo, uma vez que a terapia costuma ser cara e difícil de ser encontrada, este não pode considerado o único local de autorrecuperação. É essencial que pessoas negras encontrem vários caminhos para a cura. “Alguns buscam estratégias de cura na literatura de autoajuda, outros em AA, ou fazemos terapia que nosso seguro paga.” (HOOKS, 2003, p. 205). Muitas práticas de cura, segundo ela, acontecem nas conversas terapêuticas que os indivíduos têm com amigos, familiares ou conselheiros espirituais.

Espiritualidade e política

Como vários intelectuais negros dos Estados Unidos, bell hooks vem de uma tradição religiosa cristã protestante, mas, em sua abordagem, espiritualidade é algo mais amplo que religião, pois diz respeito da conexão do indivíduo com valores como amor, compaixão, paciência, perdão, humildade e tolerância. Para ela, esses valores são constantemente minados e colonizados.

No artigo “Spiritual Redemption”, hooks descreve que a religião tem desempenhado um papel histórico crucial no desenvolvimento da autoestima das pessoas negras estadunidenses, servindo como uma fonte vital para o empoderamento coletivo. Entretanto, hooks adverte que a religião cristã serviu para ambos: aqueles que vieram como imigrantes e exploradores e aqueles que tiveram seus corpos escravizados. As pessoas negras que foram escravizadas combinaram a tradição cristã com as diversas tradições espirituais da África, criando formas singulares de adoração que celebravam e sustentavam a vida.

Em sua análise, os africanos escravizados, como seus homólogos livres, não abraçaram o Cristianismo sem crítica. (HOOKS, 2003). Eles interpretaram as escrituras e escolheram textos que reforçaram sua humanidade, sua busca pela libertação pois, para garantir sua sobrevivência, o povo negro não podia se contentar com uma interpretação conservadora da Bíblia. Para hooks, eles evocavam o que o teólogo Matthew Fox chamou de “cosmic crist”, que significa o compartilhamento da ideia de que as pessoas negras precisam de um despertar religioso radical que articule ao mesmo tempo as necessidades espirituais (psíquicas) e as necessidades de justiça social (Ibid., p. 108).

Com efeito, hooks aponta que, especialmente no mundo depois da escravidão, essa relação com a religiosidade começa mudar. À medida que a igreja negra se tornou com o tempo uma instituição organizada, a religião dos afro-americanos deslocou-se de uma teologia da libertação, necessária para a sobrevivência, para o estabelecimento de uma fé conservadora, isto é, uma prática que se apoiava em interpretações fundamentalistas da Bíblia. Durante esse processo de transformação, pregadores negros começaram a ser educados em instituições que, além de conservadoras, replicavam os valores raciais das instituições brancas. Muitas dessas interpretações fundamentalistas da Bíblia reforçaram o racismo, criando, muitas vezes, um sistema de castas baseado na tonalidade da pele. Martin Luther King, por sua vez, criticava essas práticas religiosas ao dizer que a espiritualidade da resistência estava sendo substituída pela oportunista espiritualidade da conformidade. (HOOKS, 2003)

Ademais, a partir dos anos 1970, em muitas igrejas negras, a pobreza passou a ser vista como marca da vergonha, um sinal de que a pessoa não era merecedora ou escolhida de Deus, situação que afastou muitas pessoas pobres das igrejas. Nesse cenário, não é por acaso que pessoas jovens negras, quando começavam abraçar a luta antirracista, acabavam abandonando as igrejas. Para hooks, esse movimento de saída das igrejas não significou apenas abandonar a religião dos ancestrais, mas abandonar a crença de que atender às necessidades do espírito, por meio de uma prática espiritual, era importante para a autorrealização e a construção de uma autoestima saudável.

No entender de hooks, o movimento de afastamento das pessoas negras da prática espiritual coincidiu com o momento de deslocamento do país em direção a um individualismo narcisista. Assim, muitas pessoas negras, encorajadas pela cultura do consumo hedonista, abraçaram a cultura do narcisismo, levando-as a um modo de vida baseado no individualismo liberal, o que favorece a adoção de posturas niilistas, e até mesmo cínicas em relação à justiça social e à democracia.

Nesse percurso analítico, hooks, inspirada pelas ideias de Dalai Lama, advoga um retorno à valorização da espiritualidade como uma prática que relaciona ética com ação, um fazer que fortalece a autoestima do indivíduo e da coletividade. Espiritualidade, segundo hooks, diz respeito da busca de um por um crescimento interno que durante o processo de aprendizagem “o indivíduo cultiva a quietude da mente, que permite à consciência emocional profunda se tornar aparente. É uma forma de trazer à tona nossa experiência interna.” (HOOKS, 2020,p. 225). Quietude e autoconhecimento se contrapõem à aceleração e a busca constante pelo aumento da produtividade, valores presentes na cultura do marketing e do mercado.

A ética do amor

Na introdução do livro Tudo sobre o amor, hooks afirma que não há muitas discussões públicas sobre o amor porque o tema passou a ser considerado algo ingênuo, que denota fraqueza e relacionado a uma esperança romântica. Em sua trajetória pessoal, hooks recorda que o primeiro poema que ela publicou, aos 12 anos de idade, tratava sobre o amor: “a look at love”. Depois disso, ela passou anos escrevendo poemas sobre a morte — a morte e o amor eram temas que a intrigavam quando criança.

Já adulta, hooks descreve que começou a pensar mais sobre amor quando precisou enfrentar o medo da morte, fosse testemunhando o falecimento de amigos, fosse vivenciando a angústia pessoal de ter que lidar com algum problema de saúde. A partir daí, ela se tornou obcecada com o significado do amor em sua vida e na sociedade.

Como crítica cultural, hooks percebe que, na cultura popular, o amor é relacionado à fantasia e que no dicionário é definido como uma afeição pessoal que se nutre por outra pessoa. Nesse sentido, a maioria de nós aprende desde cedo a pensar no amor como um sentimento e, por isso, uma definição correta de amor é vital para imaginação, segundo ela, pois “O que não podemos imaginar não pode vir a existir” (HOOKS, 2000, p. 14)

Para bell hooks, o amor é uma prática que mescla ingredientes como cuidado, comprometimento, conhecimento, responsabilidade, respeito e confiança. E que todos esses fatores devem atuar de modo interdependente. Em sua acepção, é comum relacionarmos o cuidado como sinônimo de amor. Para ela, cuidado é uma dimensão do amor, mas que o simples ato de cuidar não significa que estamos sendo amados ou mesmo amando de forma plena. Ela faz essa análise tomando como exemplo sua experiência familiar, pois, apesar de receber cuidados, ela sofria com práticas de abusos e violência. Essa situação a deixava insegura, afetando sua autoestima. Daí, ela vai dizer que amor e abuso não podem coexistir. “Todas as relações amorosas significativas empoderam cada pessoa envolvida na prática mútua de parceria.” (HOOKS, 2020, p.243)

Para hooks, amor é uma ética que se expressa nas relações cotidianas por meio da articulação de múltiplos aspectos, cujas ações favorecem o direito de sermos livres e vivermos de forma plena. Mas, segundo ela, para trazer a ética do amor para cada dimensão de nossas vidas e da nossa sociedade, precisamos abandonar a obsessão pelo poder, dominação e ganância.

A intensa carência espiritual e emocional em nossas vidas é o terreno fértil para a ganância material e o consumo excessivo do mundo sem amor, em que a paixão de se conectar pode ser substituída pela paixão de possuir. Embora as necessidades emocionais sejam difíceis e muitas vezes impossíveis de satisfazer, os desejos materiais são mais fáceis de satisfazer. E a nossa sociedade caiu na armadilha do narcisismo patológico que, na esteira das guerras, trouxe recompensa econômica enquanto minava a visão de liberdade e justiça essencial para sustentar a democracia. (HOOKS, 2000, pp. 105–106)

Em suma, o amor em bell hooks o amor uma tecnologia política dos oprimidos que nos desafia para mudança. Por isso, devemos lutar também contra o nosso inimigo interno uma vez que a revolução começa com o ser e no ser. Amar em uma sociedade dominada pela violência é um gesto de coragem.

Cuidar da autoestima, da nossa espiritualidade e descolonizar a forma como amamos são práticas de resistência contra os sistemas interligados de opressão. São agenciamentos políticos, em que o cuidado de si não está apartado do cuidado com a coletividade. E quando essas dimensões são fortalecidas, potencializamos nossa existência e nosso senso de agência individual e coletivo.

Referências bibliográficas

DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. “A fábrica do sujeito neoliberal”. In: A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.

HOOKS, Bell. Rock My Soul: Black People and Self-Steem. New York: Washington Square Press, 2003.

_____. All About Love: New Visions. New York: William Morrow, 2000.

_____. Salvation: Black People and Love. New York: Harper Perennial, 2001.

____. “Espiritualidade”. In: Ensinando pensamento crítico: sabedoria prática. Trad. Bhuvi Libanio. São Paulo: Elefante, 2020, p. 223–228.

_____. “Amor como prática da liberdade”. Disponível em <https://medium.com/enugbarijo/o-amor-como-a-pr%C3%A1tica-da-liberdade-bell-hooks-bb424f878f8c>. Acesso em 2 dez. 2020.

_____. “Vivendo de amor”. Disponível em <https://www.geledes.org.br/vivendo-de-amor/> Acesso em 02 dez. 2020.

_____. “The Inside Part: Self-Steem Today”. Tradução. Disponível em <https://marileaalmeida.medium.com/autoestima-e-o-povo-negro-em-bell-hooks-c4806c10e8b8> Acesso em 2 dez. 2020.

LAZZARATO, Maurizio. O governo do homem endividado. Trad. Daniel P.P. da Costa. São Paulo: Editora N-1 edições, 2017.

[1] A Ivy League é um grupo formado pelas oito das universidades mais prestigiadas dos Estados Unidos: Brown, Columbia, Cornell, Dartmouth, Harvard, Universidade da Pensilvânia, Princeton e Yale.

[2] Baby boomer é uma pessoa nascida entre 1946 e 1964 na Europa, sobretudo na Grã Bretanha e na França, Estados Unidos, Canadá ou Austrália. Nesses países, depois da Segunda Guerra Mundial, ocorreu um súbito aumento de natalidade.

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