Aqui na Elefante, “feminismo” não é apenas uma área de nosso catálogo, mas um compromisso editorial e uma perspectiva a partir da qual analisamos e procuramos entender e nos posicionar no mundo. Neste 8 de março, queremos enfatizar a luta das mulheres contra o fascismo: uma das bandeiras prioritárias levantadas pelo movimento feminista brasileiro em 2022, quando voltaremos às urnas após quatro anos de bolsonarismo e dois de pandemia, marcados por uma obscura campanha antivacinação, mais de seiscentos mil mortos por covid e um rastro imenso de precarização trabalhista e violência extrativista, sexual, racial e de gênero.

Destacamos aqui os livros e autoras que representam esse posicionamento, na intenção de fomentar o pensamento crítico – e impulsionar à ação – neste dia de luta:

 

Uma de nossas autoras mais importantes, Silvia Federici abre alas dessa seleção com um feminismo marxista que vai na origem da opressão das mulheres a partir da acumulação do capital e da expropriação – de terras, de corpos, da sexualidade. Em Calibã e a bruxa, que já podemos chamar de clássico, ela analisa circunstâncias históricas específicas em que a perseguição às bruxas se desenvolveu e as razões pelas quais o surgimento do capitalismo exigiu um ataque genocida contra as mulheres. O ponto zero da revolução tem como fio condutor que o capitalismo necessita do trabalho não remunerado das mulheres para acumular valor e continuar existindo — à custa da natureza e das comunidades. Já no lançamento Reencantando o mundo, documenta as intensas lutas travadas por pessoas em todo o mundo contra as múltiplas formas de desapropriação às quais estão sujeitas.

A potência feminista, de Verónica Gago, dialoga com as ideias de Silvia Federici, Angela Davis, Nancy Frazer, Wendy Brown, Rosa Luxemburgo e Karl Marx, entre outras pensadoras e pensadores clássicos e contemporâneos, e defende a proposta da greve internacional feminista como instrumento revolucionário que visibiliza trabalhos e condições das mulheres invisibilizados historicamente pelo sistema. Como o nome propõe, um livro potente principalmente se o entendemos como forjado na cozinha do movimento avassalador que ainda segue sacudindo as bases conservadoras e neoliberais por toda a América Latina.

bell hooks dispensa apresentações – mas a gente sempre encontra um jeito diferente e importante de dialogar com ela – e é de uma urgência cada vez mais evidente que nos debrucemos sobre sua obra, que destrincha com amor as tensões entre relacionamentos, movimentos sociais e produtos culturais e uma sociedade capitalista patriarcal imperialista supremacista branca. A notícia de seu falecimento, em dezembro do ano passado, não abalou nosso projeto de comemorar os 70 anos da autora com a publicação de pelo menos mais seis livros de sua autoria em 2022.

Publicado originalmente em 1982 e até então inédito em português, Zami, de Audre Lorde, traz as recordações dos primeiros 23 anos da vida da autora e dá voz e reconhecimento àqueles corpos constantemente silenciados, indesejáveis aos olhos do patriarcado branco e heterossexual, mas que resistem, não cedem, permanecem. Um dos textos mais bonitos de nosso catálogo, com certeza, um manifesto de que o pessoal é, e sempre será, também político.

Em Por que você voltava todo verão?, a escritora argentina Belén López Peiró denuncia os abusos constantes que sofreu quando adolescente dentro de sua própria família. Sua narrativa crua e sincera ajudou outras mulheres a levantarem a voz. Trata-se um livro tão incômodo quanto necessário, sobretudo para um país marcado pela violência contra as mulheres.

E, por fim (por enquanto), temos a longa e rigorosa pesquisa Mulheres Livres, de Martha A. Ackelsberg, que narra os esforços da Federação Mulheres Livres para criar uma organização de alcance nacional constituída por e para as mulheres da classe trabalhadora, com o objetivo de prepará-las para ocupar seu lugar na revolução em curso e na nova sociedade que se avizinhava — e que, infelizmente, foi detida pelo avanço do fascismo.

Também pode te interessar