Nosso modo de vida imperial de cada dia

A Elefante dá continuidade à Coleção Alternativas com o lançamento de Modo de vida imperial: sobre a exploração de seres humanos e da natureza no capitalismo global, dos alemães Ulrich Brand e Markus Wissen.

A Elefante dá continuidade à Coleção Alternativas com o lançamento de Modo de vida imperial: sobre a exploração de seres humanos e da natureza no capitalismo global, dos alemães Ulrich Brand e Markus Wissen. Professores universitários e ativistas políticos, os autores escrevem com os pés fincados no centro do capitalismo europeu na tentativa de entender como o modelo de vida dos países “desenvolvidos” do Norte Global atua como instrumento de dominação nas nações “subdesenvolvidas” ou “em desenvolvimento” do Sul, acentuando as desigualdades.

“O conceito de modo de vida imperial tenciona compreender melhor a constelação global de poder e dominação que é reproduzida — por meio de inúmeras estratégias, práticas e consequências imprevistas — em todas as escalas espaciais e sociais: dos corpos, mentes e ações cotidianas que atravessam as regiões e as sociedades até as estruturas (invisíveis e invisibilizadas) que propiciam as interações globais, e também reproduzem relações altamente destrutivas entre a sociedade e a natureza, com enormes transferências de material biofísico”, explicam Brand e Wissen.

Modo de vida imperial é dividido em oito capítulos, nos quais os autores se dedicam ao conceito de modo de vida imperial, à sua construção histórica, ao seu aprofundamento global e universalização — sempre de mãos dadas com as noções de progresso e desenvolvimento. Brand e Wissen dirigem críticas às falsas alternativas oferecidas pela chamada “economia verde”, que pretende salvar o meio ambiente sem modificar as estruturas do capitalismo. E também se dedicam à analisar a tão disseminada cultura do automóvel — um dos principais indicadores do modo de vida imperial.

“À medida que países emergentes como China, Índia e Brasil se desenvolvem como economias capitalistas, suas classes médias e altas adotam as práticas e representações da ‘boa vida’ típicas do Norte Global, aumentando também sua demanda por recursos e a necessidade de se externalizarem custos, como as emissões de CO2”, explicam. “Consequentemente, eles se tornam concorrentes do Norte Global, não apenas no âmbito econômico, mas também no ecológico. O resultado são as tensões ecoimperiais que se cristalizam nas políticas climáticas e energéticas ao redor do mundo, por exemplo.”

De acordo com a pesquisadora brasileira Camila Moreno, que assina o prefácio do livro, “o modo de vida imperial é um conceito provocativo para que o leitor reflita sobre como se produz e reproduz o nosso modo de vida, materializado no que comemos, o que vestimos, como nos transportamos. Para além de preocupações de ‘consumo consciente’, oferece a possibilidade de pensarmos sobre todos os hábitos cotidianos e sua repetição irrefletida, uma forma de ser e de estar no mundo transmitida como ideal universal, mas que foi construída e se mantém sobre padrões insustentáveis.”

“Com ‘modo de vida imperial’”, escreve Annette von Schönfeld, diretora da Fundação Heinrich Böll, na apresentação, “o livro lança um termo novo para o debate sobre os sistemas de desigualdade inerentes ao capitalismo. Esse termo tenta construir pontes entre o dia a dia de cada uma e cada um, entre os processos produtivos globais e o consumo global, aludindo também às políticas públicas implicadas. O livro descreve como os processos de concentração e privatização dos lucros, por um lado, e externalização de custos sociais e ecológicos, por outro, ocorrem de forma análoga em diversas épocas do capitalismo.”

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